Zé…. só Zé

Ele era tão pacato, retraído e econômico nas palavras que até irritava aqueles que com ele tentavam conversar. Ele era o “Zé… só Zé”, econômico até no nome. – ..”Qual é o seu nome..?” – “..meu nome é Zé… só Zé” respondia. Nunca frequentou salas de aulas, jamais leu um livro e não sabia escrever o próprio nome. Contudo, o fato de ele ter pouquíssima, ou quase nenhuma escolaridade não o impedia de pensar em prosperar, subir na vida, arrumar uma namorada bem bonita, comprar um bom carro importado, entre outras regalias que só com grande volume de dinheiro se consegue. Seus amigos diziam que ele sonhava e que seus sonhos não tinham limites.
Com pouco mais de 18 anos arrumou serviço de couveiro, mas ter que levantar às três da madrugada, colocar a mercadoria no carrinho de mão e vender couve até as 4 da tarde não é pra qualquer um. Abandonou a atividade e foi trabalhar de auxiliar de pedreiro, mas a “boca” não deu, pois ele achava que o serviço era muito pesado para as suas mãozinhas macias. Foi aí que Zé decidiu se envolver na política. Filiou-se a um partido pequeno e lançou seu nome para concorrer a uma cadeira na vereança da cidade. Na primeira tentativa o danado foi eleito, tomou posse e passou a ocupar uma posição de destaque em uma das comissões permanentes da Casa de Leis.
Dois anos mais tarde galgou um degrauzinho mais alto, indo para a presidência da mesa diretora da Câmara. Lá estava Zé. Agora ele era uma “otoridade”, ele mandava em muita coisa. Porém, o poder subiu-lhe à cabeça. Em determinada noite, pouco antes do início da sessão ordinária da Casa, um elemento que estava na plateia  proferiu algumas palavras de protesto e Zé, que não gostou da manifestação, deu vós de prisão ao cara. A polícia que estava nas redondezas a pedido do próprio Zé – afinal ele agora era uma “otoridade” – tratou de conduzir o manifestante até a delegacia da cidade. É… o Zé se transformou em poderoso, pois tinha nas mãos poder legislativo da cidade. Vestia-se muito bem, parecia um galã de novela da Globo.
Viajou e autorizou viagens aos seus “súditos”, não prestou contas e teve problemas com a justiça e com aqueles que lhe confiaram os votos. Quatro anos depois, tentou voltar ao cargo, mas dessa vez seus eleitores não lhe deram mais essa oportunidade. Zé ficou triste porque as tetas da mamata tinham secado. Sem grana e sem crédito, deixou a cidade de maneira que ninguém mais soubesse de seu paradeiro. Dizem que ele voltou à sua antiga atividade que era vender couve na feira. Zé… só Zé, voltou a ser COUVEIRO.

(Isso é apenas ficção, que brota da mente maluca do autor.  Qualquer semelhança com a realidade é pura, ou seria mera?….. coincidência)

::.. Benedicto Blanco é jornalista, administrador do site Lençóis Notícias e membro da Academia Literária Lençoense (ALL)