Morre Léo, cantor sertanejo que se apresentava com seu irmão Lio, já falecido

O passamento do cantor enlutou a mundo sertanejo. Durante 60 anos de carreira, junto com seu irmão Lio, percorreu todo o território nacional, e chegou a ser indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Regional.
A morte do músico foi divulgada pela página oficial da dupla sertaneja, Gilberto e Gilmar, que eram grandes fãs do cantor. Na publicação, a dupla lamentou a morte e deixou claro que o papel do artista havia sido cumprido.
O sertanejo fez fama cantando sucessos ao lado de seu irmão como Caminheiro, Ipê e o Prisioneiro, Rei do Café, Boiadeiro Errante e Rainha do Paraná. Ao todo foram 32 LPs e 17 CDs.
Após a morte de Lio em 2012, Léo seguiu firme a carreira com apresentações ao lado do irmão Lourenço, em shows sempre recheados de grandes clássicos da música sertaneja do Brasil.

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Liu e Léu foi uma dupla caipira formada pelos irmãos Lincoln Paulino da Costa (Itajobi, São Paulo, 1934 – Ibiraci, Minas Gerais, 2012), o Liu, e Walter Paulino da Costa (Itajobi, São Paulo, 1937), o Léu. Cantores, compositores e instrumentistas, nascem em família de tradição musical, da qual também fazem parte as duplas Zico e Zeca, seus irmãos, e Vieira e Vieirinha, seus primos.

Até a adolescência, trabalham na lavoura de café e apresentam-se cantando, tocando viola, recitando versos e dançando catira em reuniões familiares e festas na comunidade. Estreiam na emissora de rádio ZYS-9 de Novo Horizonte (São Paulo) como amadores.

Em 1957, mudam-se para São Paulo e, durante visita a rádio Bandeirantes, na companhia de Zico e Zeca, fazem uma apresentação informal nos bastidores da emissora. São convidados para participar da atração Novidades Sertanejas, apresentada por Zacarias Mourão (1928-1989) – a estreia profissional da dupla acontece em 5 de novembro de 1957. Em seguida, integram o elenco de outros programas da estação, como Brasil Caboclo, comandado por Capitão Barduíno (1904-1967), e Serra da Mantiqueira. Em longa carreira radiofônica, a dupla também atua nas emissoras Nove de Julho [programa Prelúdio Sertanejo, de Geraldo Meirelles (1926-2013)], Nacional de São Paulo [programa de Edgard de Souza (1932-2007)], Record [Linha Sertaneja Classe A, de Zé Russo (1931-1989)], Tupi (programa Caboclão) e Globo de São Paulo (Sábado Especial, de Zancopé Simões).

O produtor e compositor Teddy Vieira (1922-1965), grande incentivador da carreira de Zico e Zeca, torna-se padrinho artístico de Liu e Léu. Em 1959, Vieira promove a estreia discográfica dos irmãos, com o lançamento de dois 78 rotações, pela gravadora Chantecler. No repertório, quatro músicas assinadas pelo próprio Teddy Vieira. Uma delas é a moda “Rei do Café” [parceria com Carreirinho (1921-2009), resposta a “Rei do Gado” (só de Vieira), sucesso de Tião Carreiro (1934-1993) e Carreirinho, em 1958. As outras são “Carreiras de Cururu” [parceria com Piraci (1917-1974) e Biguá], a toada “Boiadeiro Errante” (só de Vieira) e o arrasta-pé “Baile na Roça” (parceria com Zico).

Liu e Léu seguem o padrão de vozes timbradas característico das duplas caipiras surgidas a partir da década de 1940, como Tonico e Tinoco e Vieira e Vieirinha. O canto, destaque em primeiro plano, é harmonizado em primeira voz aguda (Liu) e segunda voz grave (Léu). Os próprios artistas fazem o acompanhamento instrumental de violão (Liu) e viola (Léu). Nas gravações, os arranjos são enxutos, acrescidos com alguma percussão ou acordeom.

O repertório da dupla contempla valsas, guarânias, canções-rancheiras, cateretês, modas de viola, toadas e cururus. As letras retratam situações cotidianas de pessoas do campo e traçam o perfil do caboclo corajoso (“Eu sou caboclo”, de Edward de Marchi), apaixonado por sua terra (“Onde eu moro”,de Edward de Marchi), religioso [“Rainha do Paraná”, de Nízio (1930-1996)] e defensor da moral e bons costumes (“Prato do dia”, de Geraldinho).

Desilusões amorosas também se destacam, a exemplo de “Adeus morena” (Tuta, Léu), “Sementinha” [Tapuã, Dino Franco (1936-2014)], “Felicidade de Caboclo” (Pechincha, Gino Alves) e “Dona saudade” (Edward de Marchi). Um grande sucesso gravado pelos irmãos é “O Ipê e o Prisioneiro” [José Fortuna (1923-1983) e Paraíso (1947)] , em cujos versos um homem condenado narra sua desventura para uma árvore que vê crescer pela janela da prisão:

Vejo em seu tronco cipó parasita te abraçando forte
Enquanto te abraça, suga tua seiva, te levando à morte
Assim foi comigo, ela me abraçava, depois me traía
Por isso a matei e agora só tenho sua companhia

Em outro aspecto, a obra da dupla reflete as transformações no ambiente rural brasileiro no decorrer do século XX, com o processo de urbanização das pequenas cidades e o êxodo da população interiorana para os grandes centros. Em “Velho Pouso de Boiada” [Índio Vago (19?-1989), Dino Franco], eles cantam:

Numa tardinha fui andando por aí
Coincidiu que descobri pedacinhos de saudades
Tudo igualzinho a um retrato descorado
Num cenário amarrotado pelo avanço da cidade

O saudosismo prevalece em músicas sobre pessoas que, vivendo longe da terra de origem, sentem-se deslocadas e só encontram conforto nas lembranças. Um exemplo é “Caminheiro” [Jack (1943)]:

Caminheiro que lá vai indo
Pro rumo da minha terra
Por favor faça parada
Na casa branca da serra
Ali mora uma velhinha
Chorando um filho seu
Esta velha é minha mãe
E o seu filho sou eu

Na autobiográfica “Jardineira Amarela” (Liu, Léu), os artistas relembram quando deixam o interior numa jardineira para tentar a vida na cidade:

A jardineira amarela ficou na imaginação
Nessas ruas sem saída eu fiquei sem direção
Vim do oco da taquara, da gema do areião
Quem passou mata fechada e venceu as encruzilhadas,
se perdeu na multidão

Entre 1978, os irmãos criam gravadora própria, a Tocantins, pela qual passam a lançar seus discos e trabalhos de Zico e Zeca, Zé Mulato e Cassiano, Taviano Tavares, Genil e Genel. Comandam o negócio até 1992, quando vendem a empresa.

Em 55 anos de trajetória artística, os irmãos gravam 10 discos de 78 rpm, 4 compactos, 34 LPs e 20 CDs. Em 2004, são indicados ao prêmio Grammy Latino na categoria Melhor Álbum Regional, pelo CD Jeitão Caboclo. A dupla é conhecida como “a expressão máxima da música sertaneja” – slogan criado pelo compositor Dino Franco. Em 2012, após o falecimento de Liu, Léu segue em carreira solo, fazendo shows e cantando em programas de rádio e televisão.

Fonte: LIU e Léo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo636093/liu-e-leo>. Acesso em: 16 de Mai. 2019. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

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