Lençóis, berço de grandes músicos!

Fuçando na internet encontrei um vídeo onde dois jovens de nossa cidade cantavam magistralmente uma música caipira. Enquanto ouvia, meu pensamento bateu asas para longe, para um lugar do passado (não tão distante) e lá encontrei muita gente boa, músicos da mais alta qualidade. Afinal, Lençóis é berço de grandes talentos musicais. Vi o excepcional Toninho Nelli e seu inseparável violino. Cruzei com os irmãos Joaquim e João Estrela, o primeiro executando o  trombone e o segundo, o baixo tuba. De soslaio avistei João Calegari, Quinzinho, Carlos Giglioli, Agostinho Duarte,  Tico Cavassutti, Emílio Rossi, José Rossi, Lála Cavassutti, Franguinho Giovanetti, João Francisco Pinto, Balim Paccola, João da Banda, Uris Paccola, Emílio Campanholi, Degleir Tangerinho, Elý Silva, Domingos e João Giovanetti  e muitos outros que noutra oportunidade listarei em meus artigos. Só lembrando que muitos desses artistas permanecem entre nós, e outros partiram antes do combinado, como costuma dizer  o grande Rolando Boldrin.

Não poderia deixar de citar aqui o Maestro Júlio Ferrari, um italiano de Cremona que adotou Lençóis como sua segunda terra natal. Para se ter uma ideia do capricho do velho maestro, ele pedia para que seus filhos trouxessem areia fina colhida às margens do rio Lençóis para que ele, por meio de uma latinha com furos ao fundo, espalhasse nas partituras que ficavam como se fossem  alto relevo. Em justa homenagem um bairro da zona norte da cidade perpetua o seu nome.

Mas, a ideia de discorrer sobre esse tema surgiu quando vi o vídeo da dupla sertaneja lençoense na internet.  Contudo, neste artigo vou apenas dar ênfase a dois episódios interessantes envolvendo Toninho Nelli um dos maiores violinista que Lençóis conheceu.  No primeiro, como Toninho era fã incondicional de Zequinha de Abreu, no dia 21 de maio, na década de 60, antes de sair o sol, lá estava ele em Santa Rita do Passa Quatro, na porta da Igreja Matriz, tocando lindas músicas de autoria do compositor santaritense. A cidade parou para ouvir o som do violino de Toninho Nelli que viajou no dia anterior para celebrar o aniversário da cidade. O sucesso foi tanto que os moradores pediram para que ele voltasse no dia seguinte, pois o aniversário de Santa Rita é dia 22 de maio e não 21 como imaginava o músico lençoense. Noutra ocasião, estava ele em São Paulo e tocava numa pastelaria do centro da cidade. Após executar diversas páginas, um cidadão que estava bem no fundo do estabelecimento bebericando com amigos, veio até ele e pediu para que tocasse, mais uma vez, a música “Luar de São Paulo” . O músico atendeu e fez aquilo que mais gostava de fazer, ou seja: tocar. Terminada a música o mesmo cidadão retornou e “aumentou o cachê” e assim foi, segundo relato do próprio Toninho, umas cinco ou seis vezes.  “O cara bebia, chorava e pedia pra tocar de novo”, contava o músico. Lá pelas tantas da madrugada, quando poucos clientes permaneciam na pastelaria, Toninho tomou a liberdade de perguntar ao proprietário do estabelecimento, quem era aquele cidadão tão triste. “Esse é Alberto Marino, autor da música Luar de São Paulo que você acabou de tocar”. Para celebrar o episódio, o músico lençoense tomou mais uma dose e tocou mais uma vez – agora sem a presença do autor – a música Luar de São Paulo.

BacBlanco

Texto publicado no Jornal Sabadão, edição de 10 de dezembro de 2016