Figurinhas Carimbadas

Em todos os lugares há sempre aquelas pessoas que se tornam figurinhas carimbadas e que passam a fazer  parte da história. Lençóis não é exceção. Posso citar aqui pelos menos três que são bem lembradas pelos moradores, sobretudo os mais antigos. Há muitos anos existia na cidade  um homem alto, forte, negro que atendia pelo nome de Pai João.  Ele morava nas proximidades da Cruz do Cigano que ficava nos altos da cidade, nas imediações do Asilo Nossa Senhora dos Desamparados.
Educado, fala mansa, olhar calmo, sorriso franco, vestes puídas, sandálias de couro cru nos pés, Pai João reunia diversas crianças e com passos lentos, firmes  e decididos descia para o centro da cidade. Levava consigo sempre um pacote de balas que ganhava dos comerciantes e distribuía para a garotada. Aquela figura simples, mas imponente como um príncipe etíope,  conquistava em larga escala a simpatia dos moradores e transeuntes. Na região central da cidade não havia uma só pessoa que não o conhecesse. A sua maneira de ser inspirava confiança, tanto é que os pais não tinham temor algum em deixar os filhos em sua companhia. Pai João faleceu com idade avançada e seu corpo descansa no cemitério central de Lençóis Paulista.   Outra figura que fez história foi João Gordinho.
Não se sabe de onde veio, mas ele chegou a Lençóis nos anos 60 e foi recebido como filho pela Família de Antonio Paschoarelli. Nunca se soube o nome dele, mas pelo fato de chamar todo mundo de “Gordinho” acabou levando pelo resto da vida o apelido. João Gordinho fazia o papel de office boy para os comerciantes do centro. Sempre muito alegre, nas suas idas e vindas assoviava uma música que só ele conhecia. Uma ocasião, um casal caminhava pela calçada defronte a Casa Paccola – na Rua 15 de Novembro –  e João bateu levemente no ombro da mulher  chamando-a de gordinha. Deu uma confusão danada até que alguém explicou a situação ao marido dela e tudo foi resolvido. João terminou seus dias no Asilo e seu corpo está sepultado  no cemitério municipal.
A terceira figura que quero lembrar neste texto é uma que atendia pelo apelido “Chem”. Bastante moço ainda vivia na zona rural e cuidava de gado e trabalhava nas lides da lavoura.  Nos finais de semana vinha para a cidade e ficava bêbado, arrumava confusão,  e acabava preso, mas na segunda-feira estava a postos para cumprir suas obrigações. Muitas outras figurinhas carimbadas fizeram parte da história da cidade. Oportunamente escreverei sobre elas. Por hoje, é só!

Pensamento

“É com os olhos do coração que se enxerga a intensidade do amor”  BB

::.. Benedicto Blanco é jornalista, administrador do site Lençóis Notícias e membro da Academia Literária Lençoense (ALL).