Estórias da vida

Esta historinha foi narrada por um grande amigo, quando na sexta-feira, 15 de junho de 2007, no início da noite, voltávamos de nossa costumeira caminha. Na pista de atletismo do bairro Jardim Ubirama (o lugar mais bonito de Lençóis),havia apenas duas pessoas a caminhar: ele e eu. No caminho de volta para casa — de automóvel, evidentemente, porque ninguém é de ferro — falávamos de amenidades, de fatos e episódios sem grande relevância, coisas do dia-a-dia, e não sei porque razão, em dado momento, enveredamos para a área da política. A bem da verdade, o assunto nem era relacionado à política propriamente dita, mas de homens que ocupam ou ocuparam cargos públicos que sabidamente tinham memórias pródigas. Lembramos do ex-governador Paulo Maluf, de Jânio Quadros, Tancredo Neves, e tantos outros que tinham e muitos ainda as têm, memórias privilegiadas. Para ser bem franco, começamos falando do folclórico e competente ex-vereador de Lençóis –já falecido — Arlindo Torres da Silva. Relembramos as frases de efeito ditas por ele, muitas vezes adaptadas pela população para ficar mais engraçadas…. “Seu Arlindo, a despesa aqui ficou em sessenta cruzeiros, e  tenho que pagar com cheque. Como é que se escreve SESSENTA?….” – “….Olha meu filho, eu também não sei, mas faz dois de TRINTA e fica tudo certo…”. Esse episódio, segundo se comenta, teria acontecido em um comício na eleição municipal de 1982, vencida pelo ex-prefeito Ideval Paccola, morto em 12 de agosto de 2003. Dentre tantos outros casos por nós relembrados naquela tarde/noite, veio-nos à mente uma visita que o ex-governador –hoje deputado federal — Paulo Maluf fez a Lençóis, no inicio da década de 1980. Nas cercanias da prefeitura — a atual, inaugurada em 1981— havia centenas de pessoas. Simpatizantes, correligionários, puxa-sacos, e outros, estavam à espera do ilustre visitante — governador do estado à época. Ele chegou, acenou para o pessoal e disse em alto e bom som: “….deixa eu dar um abraço no meu grande amigo Edemir Coneglian….” O governador passou no meio da pequena multidão e foi abraçar seu amigo— o Edemir  – que se encontrava nos primeiros degraus da escada que dá acesso ao pavimento superior do prédio da prefeitura. Era de lembranças assim que meu amigo e eu fomos matando o temo. Quando fiz menção de ir embora, meu amigo que já se preparava para descer do carro — como disse anteriormente,  estávamos de carro, pois ninguém é de ferro — saiu com essa: “vou te contar uma estorinha bem rápida. Você vai gostar. Juro que aconteceu comigo…..” Logicamente, pensei: “Lá vem uma daquelas …..” Bem….desliguei novamente o motor do carro, e ele — o meu amigo, começou:  “…..Eu trabalhava como vendedor de bolachas para a Zabet – hoje Ádria –  e num final de semana, estava eu em Passos de Minas/MG. O hotel onde me hospedei era muito bom e costumeiramente abrigava personalidades da música, teatro e da política, ou sei lá mais  quem. Naquela noite, eu e mais um grupinho de amigos, percebemos que alguma coisa diferente estava acontecendo. Fomos para o saguão do hotel e vimos uma comitiva de mais de trezentas, ou quatrocentas pessoas se aproximava do hotel. Quem era a estrela da turma…? Quem…? Nada mais nada menos que Tancredo Neves, ex-governador de Minas, ex-senador, ex-presidente da república….Eu disse aos meu amigos: vou lá falo com ele e tiro ele daquela multidão. Os meus amigos  riram até dizer chega. No fim, eles me disseram: se você for lá e conseguir tirar esse homem, nós pagamos a janta. Eu, muito confiante, retruquei: Podem preparar a grana porque lá vou eu. Confesso que me deu um friozinho na barriga, mas imbuído de muita vontade de ganhar uma janta, enfrentei a fera: ‘senhor senador, devo confidenciar-lhe que não sou seu eleitor, pois moro no estado de São Paulo, mas confesso que sigo a sua carreira e sou seu fã.— Qual é seu nome, meu jovem — perguntou o senador. Eu respondi que meu nome também lembrava o de um ex-presidente.— Mas o que deseja de mim…..? –  Eu respondi: quero um favor do senhor, na verdade são dois. Sei que Minas Gerais se notabiliza pela beleza dos afrescos aplicados nas igrejas, e sendo assim, o primeiro favor é que o senhor tire uma foto comigo…. O segundo, para que eu leve como lembrança para casa, gostaria que a foto fosse feita defronte a uma dessas igrejas maravilhosas que existe aqui. Como não havia nenhuma igreja ali perto do hotel, fiz com que ele se afastasse um pouco do grupo de pessoas que o acompanhava e o coloquei defronte a um belo quadro onde estava desenhada a gravura de uma das inúmeras e belas igrejas do local. Assim, fiz uma foto com um dos maiores ícones da política nacional e ainda para compensar o sacrifício, como cumpri minha promessa de tirar o ex-presidente da multidão,  fui saborear um suculento churrasco…… de graça”. A única frustração desse meu amigo, foi que o fotógrafo que registrou a “ocorrência”  nunca mais foi visto e a foto que deveria ser entregue pelo correio, até sexta-feira à noite, dia 15 de junho de 2007, não havia chegado. É bom registrar que esse episódio ocorreu no final dos anos 1970. Puts. Faz tempo, eim? Desculpe-me, meu grande amigo Jânio Simões… Não tive paciência e contei a sua história (Benedicto Blanco —Jornalista).  – Texto publicado em 2007

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