Doenças psicossomáticas: quando a mente adoece o corpo – Karina Marcuci

Psicóloga Karina Marcuci

É normal que o coração das pessoas bata com mais força quando ficam diante das pessoas por quem se apaixonaram. Também é comum que as pernas tremam quando é preciso falar em público. E são as emoções que provocam esses sintomas físicos reais. Entretanto, custa aceitar que os mesmos pensamentos que causam um frio na barriga cheguem a desencadear enfermidades, que acabam limitando a vida de muita gente.

As doenças psicossomáticas são condições provocadas por emoções contidas e que precisam o tempo todo, ser controladas, podem ser mantidos pela pessoa, diálogos internos do tipo: “tenho que aguentar”, “segurar”, “não posso mais”, “não consigo mais suportar”, “estou a ponto de explodir” somado a um desencadear de pensamentos negativos, que provocam alerta negativo e constante no sistema (corpo e mente), o que acaba por acarretar um desequilíbrio emocional. E estão mais presentes no cotidiano das pessoas do que se possa imaginar. Até porque, muitas vezes, o desconhecimento sobre o tema pode levar a uma jornada longa de exames clínicos no corpo físico, enquanto a causa da dor pode ter tido início na mente.

O Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Novos dados mostram que 86% dos brasileiros sofrem com algum transtorno mental, como ansiedade e depressão. Um cenário diretamente ligado às doenças psicossomáticas.

“A sobrecarga mental pode adoecer o corpo físico. Quando por algum motivo a mente não dá conta de lidar com situações conflitantes e estressantes, e esse evento permanece constantemente promovendo desconforto, o corpo passa a suportar toda essa dor. As desordens emocionais afetam o funcionamento dos órgãos do corpo, comprometendo a saúde corporal. E temos exemplos clássicos, como dores na coluna, de cabeça e estômago, inflamações, queda da imunidade”, explica a psicóloga Karina Marcuci.

Sintomas

Respiração rápida ou falta de ar, suor excessivo, enjoos, boca seca, dor no peito ou nas costas, sensação de nó na garganta e até manchas na pele. Não há uma regra, mesmo porque as doenças psicossomáticas atingem os indivíduos de formas distintas.

“Por exemplo, alguém que tenha gastrite pode ter uma piora nos sintomas por conta do aspecto psicossomático; assim como, quem sofre com tensão muscular ou cãibras constantes e percebe, em determinado período de tempo, uma intensidade nos desconfortos. Para se curar, o acompanhamento psicológico é indispensável’, ressalta Karina Marcuci.

Causas

Essas manifestações acontecem porque a ansiedade e estresse geram um aumento na atividade nervosa do cérebro, o que também resulta em uma elevação nos níveis de hormônios no sangue, como cortisol e adrenalina. Outros órgãos são afetados justamente por estarem ligados ao cérebro e ao sistema nervoso. Intestino, coração, músculos e estômago costumam ser os mais afetados durante um pico de ansiedade.

Quando o estresse é muito constante na vida da pessoa, o paciente acaba desenvolvendo outros problemas crônicos relacionados a essas funções do corpo.

Não há um único fator que leva alguém a desenvolver um distúrbio psicossomático. Atualmente é muito comum haver pressão em todos os setores da vida, desde construir uma boa carreira profissional até manter uma estabilidade no âmbito amoroso e familiar.

“Esses fatores influenciam a todos e podem afetar algumas pessoas mais do que as outras. Traumas do passado e quadros clínicos de outros transtornos mentais, como depressão e bipolaridade, também estão na lista das principais causas, as quais frequentemente não são identificadas ou tratadas”, aponta a psicóloga.

 Diagnóstico

É preciso lembrar que o diagnóstico de doenças psicossomáticas só pode ser dado por um especialista após exames físicos e laboratoriais, para descartar outros possíveis quadros relacionados aos sintomas.

Por isso, é de extrema importância que o paciente busque ajuda e, com a análise de um psiquiatra ou clínico geral, exclua a possibilidade de outras doenças. As intervenções para esses casos são realizadas de duas formas: alternativas para lidar com os sintomas físicos e outras para tratar exclusivamente o fator psicológico, a real causa do distúrbio.

O médico responsável pode prescrever remédios como anti-inflamatórios, analgésicos e até antidepressivos ou ansiolíticos para aliviar as dores físicas. Já para cuidar das emoções, é importante o acompanhamento psicoterápico e, dependendo do caso, a hipnoterapia pode ajudar a aliviar a tensão de marcas e mágoas do passado, ajudando a desenvolver novas estratégias comportamentais diante dos desafios.

Outras ações paralelas são bem-vindas se surtirem efeitos no paciente, como realizar atividade física, que costuma trazer mais qualidade de vida.