Antes de pensar em Smart Cities, é preciso pensar em Cibersegurança – Jefferson Penteado

Jefferson Penteado é fundador e CEO da BluePex, empresa brasileira especializada em segurança da informação e disponibilidade.

Habitando as páginas do noticiário desde o início dos anos 2000, o termo smart cities — que em português significa “cidades inteligentes” — vêm ganhando ainda mais projeção com a evolução das tecnologias necessárias para que o conceito saia do papel e se torne realidade. Novos sensores voltados a IoT, redes mais eficientes e softwares mais avançados, além de outras inovações, já permitem que alguns projetos ganhem vida em setores como o de energia elétrica, utilities e mobilidade, tornando a vida nas cidades mais eficiente. Nos últimos meses, o início das operações das redes 5G no Brasil criou um novo “rebuliço” em torno das grandes possibilidades trazidas pelas altas velocidades no tráfego de dados, estabilidade e capacidade de conexão de múltiplos dispositivos. No entanto, episódios recentes de ataques hackers ao coração da TI de municípios – como o que ocorreu no Rio de Janeiro -, que praticamente paralisaram os serviços básicos prestados pela prefeitura e órgãos adjacentes aos cidadãos, são um banho de água fria para quem imagina um futuro em que a tecnologia possibilite uma vida melhor nas cidades. Se não somos capazes de proteger o básico em termos de sistemas e dados dos moradores, como podemos pensar em um futuro próximo com carros autônomos, semáforos inteligentes, delivery por meio de drones, etc?

À frente de um das principais empresas de segurança da informação do Brasil, e tendo municípios como clientes, acompanho de perto o cenário de investimentos em segurança da informação. Assim como no mercado privado, é normal em nosso País que a cibersegurança não seja vista como um investimento, mas como uma despesa. Muitas vezes é preciso acontecer um ataque para que se busquem tecnologias mais adequadas e que efetivamente garantam alto nível de proteção. O problema é que, normalmente, neste momento o estrago já está feito. Por todas as leis e licitações necessárias para um processo de contratação limpo na esfera pública, é difícil acreditar que as prefeituras terão, algum dia, a agilidade necessária para a aquisição de soluções de Cibersegurança. Porém, é preciso evoluir de alguma forma para acompanhar a velocidade do Cibercrime, que vive de buscar brechas em ambientes de sistemas desatualizados e desprotegidos. Caso isso não aconteça, veremos situações lamentáveis, como a ocorrida no Rio, se repetir em outros municípios. Em resumo: se queremos cidades mais “smart”, precisamos ser mais inteligentes também ao colocar a segurança da informação como uma das bases do desenvolvimento tecnológico nas prefeituras.