Água Santa…. Bebeu da sua fonte nunca mais deixa Lençóis

Entra prefeito, saí prefeito e ela está lá. Já foi reformada, ou melhor, pintada, umas novecentas  e noventa e nove vezes. É impressionante como os prefeitos gostam de passar uma caiação na coitada. Há época em que ela fica meio esquecida, suja, fétida, relegada a segundo plano!  Depois, parece que dá uma luz na cabeça de alguém e lá vai a brocha com nova demão de caiação. Pronto! Agora, por mais algum tempo a danada fica linda, maquiada, produzida, como uma noiva prestes a dizer o ‘sim’. Mas, o implacável tempo se incumbe de desbotar as suas feições e ela volta a ficar um bom tempo carrancuda, igual a um garoto que acaba de derrubar o pirulito no barro. Contudo, nem os mais insensíveis podem resistir aos seus encantos. Como uma pérola incrustada no mais alto relevo da coroa, apesar da sua pouca estatura, ela permanece imponente, fazendo aquilo que há um século vem fazendo: matando a sede de todos que a procuram. Refiro-me à Biquinha. Lugar pitoresco que viu nascer muitos romances que se transformaram em numerosas proles. Biquinha que viu nascer, viver e morrer muitos dos filhos de Lençóis. Biquinha que no passado serviu de recanto para os saudosos piqueniques. Biquinha que em cujas barrancas oferecia a macia argila, matéria prima para que os artistas de outrora moldassem belas esculturas, verdadeiras obras de arte. Hoje, apenas algumas árvores de uma pequena praça a circundam, mas no passado era cercada de arbustos verdes,  floridos. Não seria demasiadamente saudosista dizer que sobre as copas mais altas, uma orquestra de sabiás da laranjeira, sanhaços, azulões,  e outros pássaros canoros dava o tom para muitos idílios? Muitos amores brotaram aos pés dos imensos açoita-cavalos, ipês, cabriúvas e berobas….outros, no entanto,  não prosperaram, mas vêm à memória como uma doce lembrança.   Não sei!  Não sei se seria exagerar no saudosismo. Até porque não vivenciei isso que estou escrevendo, apenas estou relatando fruto de prosas que sempre mantenho com as pessoas mais antigas.  Um grande amigo meu costuma dizer que tem prazer em dizer que é saudosista. Nesse aspecto, sem constrangimento, confesso que penso igual a ele. Do alto do meu pouco mais de meio século de vida, dos quais, oitenta por cento dedicados à arte de pesquisar e escrever senti-me na obrigação de falar sobre a nossa querida Biquinha. Penso que ela é parte integrante da história de nossa cidade que em 2008  comemorou 150 anos de vida. Ela justifica um ditado que há muitos anos é lembrado aqui na terrinha: “Quem bebe água da Biquinha nunca mais deixa Lençóis”.

Benedicto Blanco