Abril Marrom – Braile é fundamental na qualidade de vida do deficiente visual

Projeto Enxergando o Futuro ensina o método de leitura e escrita por pontos a distância e de graça, o que ajuda na inserção na sociedade

Daniela Reis Frontera lendo braile

Praticamente caçula entre as campanhas de saúde que usam cores como identificação, o Abril Marrom é o mês de conscientização sobre a cegueira. É um período para focar na prevenção e combate às diversas doenças que podem levar à essa condição e na reabilitação das pessoas com baixa visão e as que não enxergam. E, neste processo, o braile é fundamental. Aprender a ler e a escrever usando o código universal dos seis pontos costuma ser um divisor de águas para os deficientes visuais, como foi na vida de Daniela Reis Frontera, idealizadora do Enxergando o Futuro.

Aos 23 anos, ela foi diagnosticada com retinose pigmentar. Com o passar do tempo, foi perdendo visão, mas o processo de aceitação da condição foi lento. “Apesar dos exames que indicavam a perda progressiva da visão, eu ainda achava que enxergava. Mas depois que precisei parar de dirigir, comecei a bater nos móveis em casa e a precisar de ajuda para me locomover, caiu a ficha: não estou enxergando. Foi quando decidi aprender braile. É um recomeço porque você vai aprender a ler e a escrever de novo e a utilizar o celular com áudio para tudo. Mas um recomeço que te permite a levar uma vida plena”, relata.

Após aprender o braile e passar a usar tecnologia assistiva, Daniela obteve de volta autonomia para praticamente tudo na sua vida. Inclusive, facilitou suas atividades de empresária. Ao sentir o impacto positivo do braile, ela decidiu criar um projeto para ajudar pessoas cegas. Assim, em 2019, nasceu o Enxergando o Futuro, em que ela ensinava, em aulas presenciais, braile aos interessados em sua cidade natal, Duartina (SP).

Com a pandemia e o conhecimento progressivo da tecnologia assistiva, Daniela migrou as aulas para uma plataforma on-line, também para conseguir ampliar o atendimento. No Brasil, 6,5 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência visual, de acordo com o censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010. Mais de 240 alunos do Brasil e até do exterior, de países como Portugal, África e Inglaterra, já fizeram o curso e retomaram a autonomia nas suas vidas. “Ao aprender braile, essas pessoas têm todas as condições de reinserção na sociedade. Afinal de contas, pessoas como eu, apenas não enxergam. Temos uma limitação, como tantas outras pessoas têm por outros motivos. Não é preciso parar a vida, nos aposentar, e, muitas vezes, entrar em depressão”, ressalta.

Mais que ensinar braile, o Enxergando o Futuro é um projeto de reinserção do deficiente visual na sociedade. “Infelizmente, são poucos os cegos nas ruas, levando uma vida normal. O nosso projeto tem por missão ajudar a mudar isso à medida que dá autonomia, abre horizontes e ajuda a pessoa a achar alternativas para ela fazer o que quiser”, acrescenta Daniela. Na sua vida pessoal, após criar o Enxergando o Futuro, ela tornou-se palestrante e coach com foco em desenvolvimento de performance para equipes.

Ela, que sempre foi esportista, retomou as atividades. É paratleta e conquistou o vice-campeonato nacional de paratambor, além de praticar atletismo e ciclismo. “Hoje sou muito feliz porque sou uma pessoa ativa, faço tudo o que gosto e, com o Enxergando o Futuro, consigo ajudar deficientes visuais para que eles também tenham uma vida plena como a minha”, finaliza.

Curiosidade

O Abril Marrom surgiu em 2016. O mês foi escolhido para a campanha de conscientização sobre a cegueira porque no dia 8 é celebrado o Dia Nacional do Braille. A data é o nascimento de José Álvares de Azevedo, professor responsável por trazer, em 1850, o alfabeto braile ao Brasil. A cor marrom foi a escolhida para a campanha por ser a cor de íris mais comum nos olhos dos brasileiros.

Inscrições abertas e doações

Estão abertas as inscrições para a 39ª turma do projeto Enxergando o Futuro, cuja missão do projeto é ensinar braile de forma on-line e gratuita para todas as pessoas com deficiência visual. Mas há desafios. Além da dificuldade de encontrar profissionais capacitados, muitas pessoas não têm condições de bancar um curso de qualidade. Por isso, o Enxergando o Futuro pede a sua ajuda. Faça uma doação ou adote um aluno e ajude na compra de materiais de estudo (regletes, folhas A4 de gramatura 120 e despesas com Correios para postagem de apostilas).

A chave Pix para doações é [email protected]. Se quiser saber mais informações sobre como ajudar o Enxergando o Futuro, entre em contato com a gente pelo telefone (14) 99740-8217. E, se você é deficiente visual e deseja aprender braile on-line e gratuito ou conhece alguém, garanta sua vaga pelo WhatsApp: (14) 99740-8217.