A cabra e a locomotiva

Naquele horário, infalivelmente, passava pelo local a oponente locomotiva que ostentava duas grandes faixas amareladas e pretas.  Apitava duas ou três vezes e seguia garbosamente riscando campinas, florestas e montanhas, arrastando com aparente facilidade inúmeros vagões.  Às margens da ferrovia havia uma pastagem e num pequeno cercado de arame farpado ficava uma velha cabra que se divertia observando a passagem da locomotiva. Certo dia a locomotiva decidiu brincar com a velha cabra:
– O que faz você aí parada, levando essa vidinha monótona? Não conhece nada, não sai desse cercado de arame. O que você quer para a sua vida… vai morrer assim? Faça como eu e viaje pelo mundo, conheça novos lugares e pessoas, respire ares diferentes, vá curtir um pouco a vida….
– Não, não, locomotiva. Não tenho essa pretensão. Meu mundinho é esse que você conhece, porém, devo-lhe dizer que sou feliz aqui. Aproveito para te fazer também uma pergunta, poço?
– Lógico que pode.
– Você sabe que eu estou aqui, mas não me enxerga, não é verdade?
– Sim, isso é verdade, respondeu a locomotiva.
– Pois é. Você pode me dizer a cor do gramado que estou pisando. Não sabe, né? Está vendo aquele frondoso Ipê florido logo ali na frente? Conhece o canto daquele pássaro que sobrevoa a grande lagoa que está à nossa esquerda? Então, amiga locomotiva. Como percebe, eu conheço muito mais coisas bonitas aqui no meu mundinho do que você que percorre milhares de quilômetros e não enxerga nada a sua volta.
Triste pela lição que recebeu, a locomotiva partiu sem dar um apito sequer.
Moral da historinha:
Há pessoas que conseguem enxergar maravilhas nas coisas simples, enquanto que outras não veem beleza alguma nas coisas mais belas.

Benedicto Blanco